quarta-feira, 12 de maio de 2010

Para pensarmos... algumas visões sobre a Favela...



Meu Barraco!

Ta vendo esse barraco moço?
Não se parece com uma casa daquelas que aparecem na revista, né?
Tá mais "praquelas" dos jornais, onde a polícia aparece de fuzil na mão para dizer que somos todos "ladrão"!
Mas não, olhe bem moço...
Bem lá no fundo...
"Pro" seu desgosto, esse é o meu cantinho,
no mundo...
Meu lar, meu bangaló, meu casebrinho...
Fruto de uma vida que pareceram muitas...
De muita lida, trabalho, dor e suor!

Tá vendo meu palácio moço? Fica no topo do mundo!
Aqui me sinto mais profundo...
Posso sentir Deus mais de perto...
Eu, por vezes,
rogo a ele que me leve em meio a uma bala perdida,
de um " polícia" ou uma bala bandida,
Que sempre acha alguém para levar "pro" céu
e diminuir a dor de viver em meio a essa cidade..

Aqui, nessa casinha, pela janela,
vejo as estrelas, a lua mais linda e o mais lindo amanhecer...
Sim, porque me deito com a lua e amanheço antes do sol nascer para chegar ao meu trabalho...
Por isso, todo dia vejo o amanhecer mais lindo,
como um presente de Deus pelos meus esforços..

Tá vendo meu barraco, moço?
Foi construído, pedaço a pedaço,
com as sobras do que você me pagava
pelos meus serviços e meu cansaço...
É a coisa mais linda que consegui construir
sem sua ajuda,
com a miséria que me serviu de remuneração
 por enriquecer essa cidade com meu suor...
Mas também é fruto de colaboração...
Meus vizinhos, vieram todos como irmãos,
ajudar a erguer a laje.
Aqui somos assim, nos ajudamos, mutuamente...
nunca se sabe o dia de amanhã!

Tá vendo meu palácio moço? Meu tesouro?
Nele sou rei...
É meu cantinho do céu na terra.
E nele sou cidadão como você!
Embora, muitas vezes, eu não saiba disso e você, não me reconheça ou perceba...
Olho pela janela e vejo a cidade maravilhosa..
Muitas vezes, sem nenhuma maravilha...

Aqui vejo o Cristo de braços abertos,
 lembrando que Ele também nasceu numa simples manjedoura...
Que foi crucificado e humilhado em vida
Para reinar na glória
 e dividir a história
 em dois tempos!
E ser luz desde então...

Tá vendo a minha casa moço?
Ela não é feia nem comunidade, nem favela!
E mesmo que você me cerque em muros...
Mesmo que você me esconda...
Ela ainda existe, suporta, sua indiferença!
Ela é a coisa mais bela que construi!
Me abriga, me protege, me conforta
enquanto eu preciso transitar por aqui!
Tenho certeza, que um dia,
quando não valha mais na vida o que se tem,
mas o que se é ou fez da vida em nome do amor...
Vais me encontrará noutra morada,
talvez mais bela e iluminada
por nosso Senhor,
mas não menos fruto
de meu suor, sacrifício,
trabalho, esperança
fé, renúcia e amor!
Tá vendo a minha casa moço??


(Andréa Wollmann. 12/05/2010)

O que passa sobre as favelas fora daqui... é muito ruim, depreciativo, ampliando a estigmatização negativa de toda uma população de cidadãos esquecidos pelo Estado, salvo pelas políticas policiais e criminalizantes. Mas o mais grave é que, o que passa sobre favelas aqui, ou comunidades, é muito pior, mais depreciativo e vergonhoso!















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Um comentário:

GaldinOctOpus disse...

Muito, muito, muito bom.
Parabéns mesmo.
Abração.